
No último dia 17, fui conferir California Schemin’, filme dirigido pelo ator (e agora diretor) James McAvoy, com produção de Danny Page, durante a Mostra SP 2025.
Foi a primeira de duas exibições a que compareci (a segunda, três dias depois). Como algumas pessoas que me conhecem sabem, colaboro há anos com a fanpage James McAvoy Brasil (meu REVIEW do filme lá tb) e depois de tanto tempo cobrindo as estreias internacionais em Toronto, Zurique e Roma, não podia perder a oportunidade de assistir ao filme aqui no Brasil, para poder resenhar tanto lá quanto aqui.
A história real por trás de “California Schemin’”
California Schemin’ conta a história real de uma dupla de amigos de Dundee, em Glasgow: Gavin Bain (Séamus McLean Ross) e Billy Boys (Samuel Bottomley). Apaixonados por hip hop, eles sonham em conquistar o mainstream britânico com suas composições.
O primeiro “não” surge rapidamente: o cenário é dominado pela cultura americana, e o sotaque escocês se torna um obstáculo para o sucesso. Diante disso, surge uma ideia ousada, eles decidem se passar por americanos para abrir as portas que lhes foram negadas.


Regravando seu repertório com sotaque californiano, chamam a atenção de Tessa (Rebeka Murrel), uma caça-talentos da gravadora Neotone, cujo dono é ninguém menos que Anthony Reid (James McAvoy). Assim nasce o duo Silibil N’ Brains.
Mas havia um pacto entre os dois amigos: revelar toda a verdade em um programa de TV, expondo a hipocrisia e o boicote da indústria musical britânica aos rappers fora dos Estados Unidos.
A pressão cresce, especialmente sobre a consciência de Billy, e tudo começa a sair do controle. O peso das mentiras cobra seu preço.
James McAvoy e a estreia como diretor
Para um diretor estreante, James McAvoy conduz “California Schemin’” de forma quase sinfônica. A escolha da história reflete muito de sua própria vivência, o ator cresceu em Dundee, em um conjunto habitacional popular, sem grandes incentivos ou perspectivas, e sempre acreditou no poder do esforço e da persistência.


O filme fala exatamente sobre isso: o caminho obstinado, as vezes sinuoso, as vezes mais leve, de quem persegue um sonho.
Durante as filmagens, McAvoy revelou em diversas entrevistas ter enfrentado dificuldades financeiras e logísticas, chegando até a precisar de acompanhamento médico devido ao estresse.
Dirigir, ele percebeu, tem muito mais camadas do que atuar, e ele lidou com todas elas com a mesma competência e sensibilidade que sempre demonstrou como ator.
O resultado é um filme bem estruturado, com atuações sólidas, ritmo envolvente e um roteiro sem furos. Não há cenas arrastadas: tudo flui na medida certa. Não à toa, California Schemin’ começa a conquistar os festivais ao redor do mundo merecidamente.
Elenco e atuações: química e ritmo na medida certa
O entrosamento entre Séamus McLean Ross e Samuel Bottomley é notável. Eles têm um timing perfeito, tanto no humor quanto na emoção e o ritmo de suas performances acompanha o compasso das batidas da trilha.
(E olha que eu sou rockeira raiz, mas me peguei batendo o pé e balançando os ombros várias vezes! 😅)

Lucy Halliday, como Mary, a namorada de Billy, é essencial para o desenvolvimento da trama. O elenco ainda conta com participações especiais, como a de James Corden, hilário como sempre.
O final reserva uma surpresa incrível, com outra participação que me pegou de forma muito positiva.
Destaque é para Rebeka Murrel, que entrega uma Tessa intensa, forte e magnética.
Sonho e Identidade
California Schemin’ fala sobre buscar sonhos sem precisar se transformar em um personagem.
É uma reflexão sobre identidade, sobre quem você é quando o mundo insiste em te encaixotar em um padrão, uma caixa que não serve, causando sofrimento.
O filme também aborda de forma poderosa a indústria do hip hop, um gênero dominado por vozes negras, mas controlado majoritariamente por executivos brancos.
No entanto, o ponto mais sensível da obra é mesmo a amizade.


McAvoy mergulha nas nuances das relações verdadeiras , sobre troca, sobre os limites de cada um sobre diferença de valores, pensamentos, atitudes, escolhas, consequências e como isso impacta de diferentes formas na vida de cada um, podendo causar tantos danos em um relacionamento genuíno entre amigos, seja de quanto tempo for, mas, sendo algo forte, a ponto de abalar a confiança de alguém permanentemente. É sobre considerar o outro, enxergar o outro, mais do que isso, é sobre ser empático e saber a hora de dar um passo atrás, dando lugar a um pedido de perdão e estender aos mãos, se for o caso.
Escócia em destaque
O filme também é uma homenagem à Escócia, país natal de McAvoy.
Ele retrata lugares emblemáticos como o Barrowland Ballroom, casa de shows icônica que merece estar em qualquer roteiro turístico, assim como os cenários populares da série Outlander, ou a sequência de castelos já tão corriqueiros.

Ninguém melhor do que James McAvoy para dar visibilidade a essa Escócia real, periférico, pulsante, com talentos explodindo em cada canto.
🍿 Vale o Balde de Pipoca?
California Schemin’ é mais do que uma estreia promissora, é uma declaração pessoal de James McAvoy sobre sonhos, identidade, amizade e principalmente sobre ser escocês na periferia de Glasgow.
Com ritmo, emoção e verdade, o filme reafirma por que ele é um dos artistas mais completos de sua geração, agora também um diretor de respeito!

Segundo entrevistas, James McAvoy disse que o filme chega em 2026 aos cinemas.
Desce um balde de pipoca quentinha e amanteigada porque vale a pena assistir muitas vezes! 🍿







