
(Com Spoilers)
Nos últimos tempos, um dos discursos mais repetidos sobre o cinema é que os filmes de super-heróis estão saturados, que ninguém aguenta mais o “mais do mesmo”. As bilheterias caíram, o hype diminuiu, e a fadiga do gênero virou um debate constante.
Mas será que isso é verdade? Nem tanto. O sucesso de Deadpool & Wolverine e Guardiões da Galáxia Vol. 3 mostra que, quando há uma boa história e os apelos certos, o público ainda comparece – e o impacto não é só nos números, mas na qualidade do roteiro.
E onde Capitão América: Admirável Mundo Novo se encaixa nisso? Bom, ele ainda não chega nesse nível de Deadpool & Wolverine. Infelizmente, saí do cinema com aquela sensação de “mais do mesmo”, mas…
… isso significa que o filme é ruim?
De jeito nenhum! Ele está longe de ser um desastre como Thor: Amor e Trovão ou Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania. Eu diria que Capitão América 4 é um filme justo.
A História de Capitão América 4

Resumidamente, Sam Wilson (interpretado por Anthony Mackie), agora oficialmente Capitão América, e Joaquin Torres (Danny Ramirez), o novo Falcão, resgatam um material confidencial para o governo de Thaddeus Ross (Harrison Ford). Como recompensa, são convidados para uma solenidade na Casa Branca ao lado de Isaiah Bradley (Carl Lumbly) – o super-soldado negro apresentado em Falcão e o Soldado Invernal, que, contrariado, aceita ir ao evento.
Lá, Ross pede para que Sam reúna novos Vingadores para proteger um material valioso recém-descoberto: o Adamantium. A substância foi encontrada na Ilha Celestial, local onde Tiamut emergiu no Oceano Índico (Eternos, lembram?). A disputa pelo metal envolve interesses globais, especialmente do Japão, e Ross quer garantir que os EUA fiquem no controle.
No entanto, um atentado misterioso acontece, e Bradley acaba preso. Sam então se vê em uma corrida para salvar o amigo da prisão, ao mesmo tempo que precisa intervir na crescente disputa pelo Adamantium. E, no meio disso tudo, a aparição do Hulk Vermelho complica ainda mais a situação.
O Que o Filme Entrega?
A história é honesta. O filme não prometeu muito – e, para minha surpresa, entregou mais do que eu esperava. Finalmente abordaram o surgimento do Celestial Tiamut, um evento ignorado desde Eternos, e até que exploraram mais do que imaginei.
Outro ponto positivo é a construção do Sam Wilson. Sua insegurança é trabalhada de forma clara: ele não quer substituir Steve Rogers, e isso é fundamental para entender o filme. Se você assistir esperando uma continuação dos filmes do Capitão América do Chris Evans, vai odiar.

O segredo para gostar do que você vai assistir é enxergar Sam Wilson como um novo Capitão América, sem comparações. Ele não é um super-soldado. Ele não tem a mesma personalidade. Ele é outro personagem, com um caminho próprio. Se você aceitar isso, a experiência melhora muito.
O roteiro segue a fórmula clássica dos filmes da Marvel. Não inova, mas se mantém em um terreno seguro, garantindo uma história satisfatória para os fãs. Claro, isso não impede os furos no roteiro e os escorregões no CGI, que infelizmente ainda aparecem.
O Que o Filme Fica Devendo?
Uma das conexões mais interessantes do filme é com O Incrível Hulk (2008), estrelado por Edward Norton, muito mais do que com os filmes anteriores do Capitão América. A trama começa bem, mas logo se torna um pouco confusa. O excesso de explicações desnecessárias acaba travando o desenvolvimento natural da história, tornando-a menos fluida.
Outro ponto que me incomodou foi a insistência na questão do “merecimento” de Sam Wilson como Capitão América. O próprio personagem repete tantas vezes que não quer substituir Steve Rogers que, em determinado momento, a dúvida começa a contaminar o espectador.

E, claro, um dos maiores problemas: o spoiler nos trailers. A revelação do Hulk Vermelho foi praticamente inteira divulgada nas campanhas de marketing. Eu entendo que precisam vender bonecos e gerar hype, mas isso matou o impacto da surpresa.
O filme passou por diversas regravações, e dá para sentir isso na tela. Há um certo ar de “remendo”, com soluções fáceis e momentos que parecem inseridos às pressas. Provavelmente, muitas mudanças vieram após a exibição de sessões teste, o que pode ter diluído um pouco a visão original do diretor.

Sobre o CGI? Geralmente, não me incomodo muito com isso, mas aqui ficou evidente que, em alguns momentos, os efeitos estavam bem abaixo do esperado.
Por fim, houveram algumas participações especiais, mas, destacando a de Giancarlo Esposito, poderiam ter aproveitado melhor o talento inquestionável do ator… a impressão que me deixou é que o personagem não rende suficiente pra ele, infelizmente.
As Atuações Que Amamos
Se há algo que dissipa qualquer dúvida sobre Sam Wilson ser digno do manto do Capitão América, é a atuação de Anthony Mackie. Seu carisma transcende a tela, e ele entrega uma performance sólida, convencendo totalmente como o novo Capitão.
Na D23 Expo em São Paulo, no ano passado, Mackie estava radiante e super simpático com os fãs – e essa energia transparece no filme. Ele não é um substituto de Steve Rogers, ele é um novo Capitão América – e deixa isso bem claro.

E o Harrison Ford como Thaddeus Ross?
Vou ser sincera: quando anunciaram que ele faria o Hulk Vermelho, não comprei a ideia. Para mim, Harrison Ford sempre será Indiana Jones ou Han Solo (e sei que muita gente concorda comigo, rs).
Mas quando me sentei na cadeira do cinema e comecei a ver ele desenvolvendo o personagem, ele me convenceu. Thaddeus Ross agora pertence a ele. Ford entrega uma performance forte e, curiosamente, é um dos destaques do filme, mesmo sem grandes promessas iniciais. Uma grata surpresa.
Vale o Balde de Pipoca? 🍿
Capitão América 4: Admirável Mundo Novo já está nos cinemas e, para quem é fã da Marvel, vale a pena assistir.
Não é um filme revolucionário. Não é um marco no MCU. Mas é uma boa diversão, no nível dos filmes solo da Fase 1 da Marvel. Algo mediano, mas que funciona bem como uma sessão da tarde.

Agora, um aviso:
Se você espera algo no nível de Vingadores: Ultimato, pode esquecer. Esse foi um evento cinematográfico. Comparar um filme solo com Ultimato não faz o menor sentido.
Capitão América 4 prova que os filmes de super-heróis ainda estão vivos. Não estão decadentes, não morreram. Ainda entregam entretenimento e diversão – e, no fim das contas, é isso que importa.