
Desde o Oscar, fiquei curiosíssima para assistir a “A Substância”, principalmente por toda a polêmica que envolveu a premiação. Para quem não viu ou não se lembra, o filme concorria, entre outras categorias, à de Melhor Atriz com a lindíssima Demi Moore. No entanto, o prêmio foi para Mikey Madison, de “Anora”, uma atriz de 25 anos. Essa escolha gerou muitas críticas, pois jogou na cara de todos que o discurso sobre o etarismo de Hollywood, tão bem abordado em “A Substância”, é de fato verdadeiro e faz todo sentido.
Não saberemos se esse foi o real motivo de Demi Moore ter sido privada de seu primeiro Oscar na carreira, mas o filme, sem dúvida, traz à tona muitas camadas que extrapolam os estúdios cinematográficos e batem na realidade do dia a dia de muitas mulheres, nas pequenas coisas.
A cobrança pela juventude, pelo corpo perfeito, a tortura que surge com cada nova ruga, a supervalorização da pele esticada e com aparência de seda são temas centrais. O filme mostra que, muitas vezes, isso é o termômetro que mede a competência profissional de alguém, a eficiência em qualquer que seja a atividade. Não há o que prove o contrário, e essa pressão afeta principalmente as mulheres, que acabam tendo sua saúde mental completamente destruída, muitas vezes com perdas trágicas de vidas.
A Trama de “A Substância”
O filme é escrito e dirigido por Coralie Fargeat e começa apresentando Elizabeth Sparkle, uma apresentadora de TV e referência no mundo fitness. Logo no início da trama, ela tem uma estrela instalada na calçada da fama. No entanto, seu status de queridinha de Hollywood é ameaçado quando a possibilidade de ser substituída por uma apresentadora mais jovem começa a ganhar força em sua produção.


Apavorada, Elizabeth recebe e aceita uma proposta para usar A Substância. Através de um determinado processo, o produto cria uma versão mais jovem a partir das células dela mesma, como se fosse um clone, chamada Sue. Sue começa a boicotar a versão mais velha para permanecer mais tempo no lugar de Elizabeth. Esta, por sua vez, desespera-se e passa a tomar a Substância por conta própria, sem seguir as orientações, o que desencadeia um processo físico de deformidade impressionante e assustador.
A Brilhante Demi
Sempre achei Demi Moore maravilhosa, mas minhas referências dela como atriz se resumiam à “Ghost”, “Proposta Indecente” e “As Panteras”, o que de forma alguma a desabona como atriz. Contudo, em “A Substância”, uma outra Demi me foi é apresentada.
Ela brilha, como sempre, mas, a expressão corporal, a intensidade com que ela coloca suas emoções, faz com que um nó se forme em nossa garganta de uma forma assustadora. Passamos a sentir toda a agonia que ela vivencia nessa experiência de negacionismo da velhice, o sofrimento pelo descarte etarista da sociedade quando você está em plenas condições mentais e físicas para fazer qualquer coisa que uma pessoa mais jovem faria, e a recusa em deixar o corpo cumprir seu ciclo natural sem achar que se é menor do que o outro.



Demi, com sua Elizabeth, vem nos lembrar que você pode ser a mulher mais bonita do mundo, um sex symbol, inteligentíssima, empresária de sucesso, rica, com graduações, mestrados e doutorados, pode ser a melhor em qualquer coisa a que se proponha a fazer… não importa. A partir do momento em que sua pele encolhe, as marcas no rosto aparecem e os fios brancos nascem, você deixa de existir no mundo dos “eficientes” e “úteis”, sendo resumida a um monte de nada descartável. E ela fez isso com uma maestria que dói, principalmente quando, ao perder o Oscar de Melhor Atriz, não tivemos como não pensar na mensagem poderosa sobre etarismo que ela nos traz no filme e que, mais uma vez, se concretiza na vida real de alguma forma, mesmo que indireta.
Mas Demi é brilhante. Ela sempre será poderosa, dando voz a uma questão que poucos abordam, porque muitas vezes não é interessante levantar essa bandeira. É mais fácil escantear e buscar a “carne nova e fresca” do mercado. Conforme o filme vai avançando, várias ‘camadas’ relacionadas a essas questões vão desabrochando junto com a angústia da personagem.

Certa vez, vi uma entrevista com a Meryl Streep em algum programa em que ela dizia que, depois dos 40, passou a receber muitos convites para atuar em papéis de bruxas e que ela “tinha entendido o recado”. É sobre isso: não importa o quão talentosa e competente você seja, sempre tentarão te colocar em uma caixa determinada por um grupo que te limitará pela sua aparência e faixa etária.
Vale esse Balde de Pipoca? 🍿
Se você gosta de terror corporal, “A Substância” é um filme perfeito! Se como eu, não é seu gênero de filme, o tema te pega e te prende de uma forma que você vai se envolvendo, não te deixando abandonar a trama em momento algum! O roteiro é redondo, a narrativa flui e vai te manter de olhos grudados na tela do início ao fim! Não só a atuação de Demi Moore está impecável, mas, a de todo o elenco também que conta com Dennis Quaid, Margareth Qualley entre outros!
Vale o balde de pipoca, mas eu deixaria para comer depois que o filme acabar, porque tem umas cenas um tanto nojentas! 🤢 Se você não liga, pode “mandar ver” e apertar o play já! 😆