Thunderbolts* – Você não está sozinho.

Demorei um pouquinho pra escrever sobre Thunderbolts, assisti no dia da estreia no cinema, mas precisei de um tempo para digerir tudo — e também toda a avalanche de informações que a internet despejou depois que a maior parte das pessoas foi assistir. Agora, com a empolgação um pouco mais amena, posso falar com mais tranquilidade. Primeiro, minha análise e resumo, breves, e spoilers, mas, depois vou escancarar tudo, mas, prometo que antes vem um aviso pra quem quiser parar e voltar depois de ver, ok?

Uma nova cara para anti-heróis

Thunderbolts reúne anti-heróis já conhecidos de filmes e séries anteriores da Marvel: Alexei Shostakov, o Guardião Vermelho (David Harbour), Yelena Belova (Florence Pugh), Ava Starr, a Fantasma (Hannah John-Kamen), John Walker, o Agente Americano (Wyatt Russell), e nosso velho conhecido Bucky Barnes (Sebastian Stan). Também conta com a Treinadora (Olga Kurylenko).

Apesar de diferentes, todos compartilham algo em comum: sinais evidentes da Síndrome do Impostor e traços de depressão, frutos de histórias difíceis e passados marcados por perdas, arrependimentos e escolhas questionáveis.

Parte do grupo — Yelena, Walker e a Fantasma — trabalha para Valentina Allegra de Fontaine( Julia Louis-Dreyfus), da CIA, que está prestes a sofrer um impeachment por suas operações ilegais. Para se proteger, Val quer eliminar todas as provas, incluindo os próprios “colaboradores” — sem que eles saibam, é claro.

O plano começa a ruir quando a equipe é enviada para uma missão que, na verdade, é uma armadilha para matá-los. Após muita luta, o grupo consegue escapar e descobre algo ainda mais assustador: o Projeto Sentinela, cujo trunfo é Bob (Lewis Pullman) — um personagem que carrega em si duas entidades poderosíssimas: o Sentinela e o Vazio.

A história praticamente é sobre anti-heróis, que podemos até simpatizar em algum pequeno momento, mas, que nesse filme, aparecem pra te fazer querer colocá-los dentro de um potinho e por na sua estante e tê-los como amigos pra sempre! É sobre as pessoas terem errado, mas, podem querer acertar de um ponto em diante e conseguem.

Um filme que inova, quando falamos de Marvel, que sim, sempre humanizou seus heróis, mas, aqui ela trata de algo muito próximo de quem está sentado na frente da tela ou ao menos de alguém que essa pessoa possa conhecer: saúde mental.

Cai cisco no olho, tem grito de surpresa, tem piadinha, mas, tudo muito bem colocado. Um filme que vai trazer muita reflexão sim e nem é sobre roteiro somente, é sobre si mesmo, sobre quem caminha com a gente na vida, quem apoia quando a gente realmente para de ver sentido em seguir em frente. É um filme para dar um quentinho no coração de quem vê.

🚫SPOILERS!!!⚠️

Se você ainda não assistiu Thunderbolts* e não quer correr o risco de ler spoilers, aqui é a hora que você para de ler, vai ver o filme e depois volta aqui pra ler o resto do Rewiew e me deixar sua opinião, ok? ]

Bob, Sentinela, Vazio

Bob estava sendo usado no Projeto Sentinela para se tornar algo além de um super-soldado: um herói supremo, soberano, capaz de substituir toda a antiga equipe dos Vingadores, que já não existe mais como conhecíamos. Eu devo antes de mais nada elogiar a atuação do Lewis Pullman, que foi uma grata surpresa pra mim nesse papel. Ele soube trazer a fofura do Bob, que carrega duas personalidades completamente opostas, o poderoso Sentinela e o assustador Vazio, e muda conforme pede cada um deles, como se realmente fossem pessoas em corpos diferentes. Incrível.

Ele é encontrado por Yelena, Walker e a Fantasma durante uma emboscada em um laboratório do grupo O.X.E., ligado a Valentina, cujo plano era incinerar a todos ali. Bob, confuso, assustado, sem entender bem o que estava acontecendo, escapa junto com o grupo.

Mais adiante, Valentina o reencontra e o convence a lutar ao lado dela. Bob, já transformado em Sentinela, prova ser praticamente invencível. É o cão de guarda perfeito, o trunfo definitivo do governo. Mas o que ninguém esperava é que junto com o Sentinela vem o Vazio — a escuridão que se opõe à luz.

O Vazio não mata — ele condena. Ele transforma suas vítimas em sombras e as aprisiona em um looping de memórias traumáticas, como uma prisão emocional formada por paredes que os separam de seus arrependimentos mais profundos.

E o primeiro tema importante, sério, para ser refletido, ter um olhar cuidadoso voltado para ele e que não é mostrado dessa forma nos filmes da Marvel, veio: Bob e suas múltiplas personalidade, os transtornos mentais e seus efeitos colaterais.

A temática que ninguém esperava

Aqui entra um ponto que não costuma ser retratado com profundidade no MCU: saúde mental. Bob vive com múltiplas personalidades, e o filme não deixa isso de lado — pelo contrário, é justamente essa dualidade entre Sentinela e Vazio que sustenta o grande conflito interno.

E não é só Bob que vive isso. Todos os Thunderbolts carregam traumas graves: perdas, experiências abusivas, decisões difíceis que custaram vidas inocentes. A narrativa acerta ao jogar luz sobre as batalhas internas desses personagens, mais do que nas externas.

Cada um passa, de alguma forma, por provações internas conectadas com Bob: o Vazio. Walker revê traumas familiares; Valentina revive um momento tenso da infância com o pai. Mas a mais impactante de todas é sem dúvida a de Yelena e de novo, eu devo ressaltar que esse filme é basicamente sobre questões que dizem respeito à ela e que a Florence Pugh entregou na nossa mão lindamente um presente de personagem que até então tinha sido bem mal explorado e agora teve justiça feita e entra pro hall das super–heroínas femininas preferidas.

Yelena mergulha voluntariamente dentro Vazio, em busca do Bob que ela conheceu lá no laboratório, puro, sem maldade, assustado, frágil, que não queria ferir ninguém, embora tivesse sido muito ferido. Lá, é confrontada com suas lembranças mais traumáticas de sua vida, entre elas, sua primeira missão ainda criança, na Sala Vermelha, e depois sua relação com a morte de sua irmã, Natasha Romanoff (Scarlett Johansson).

Conexão Thunderbolts* e Bob

Mesmo entre desconfianças e conflitos, Yelena, Walker e a Fantasma criam rapidamente uma conexão com Bob. No clímax do filme, essa relação se torna central, principalmente entre ele e a Yelena: a solução não está em derrotar o Vazio com força físoca — está em acolher o homem que carrega essa dualidade.

Desde o início Yelena, Walker e a Fantasma, mesmo aos trancos e barrancos, simpatizaram de alguma forma com Bob e a lição que ele trouxe para os Thunderbolts foi muito mais do que só representar a dor através do eles sofreram na caminhada de cada um, mas, mostrou a solução para lidar com suas dores individuais: amizade e solidariedade.

Muita gente chamou essa solução de “fácil demais” no roteiro, mas talvez a cena que representou tão bem isso tenha sido o ponto mais simbólico e importante da trama. O Sentinela é invencível. O Vazio também. Mas Bob… Bob é ambos. E só ele tem o poder de encontrar o equilíbrio entre eles, dentro dele.

A mensagem que fica é arrebatadora: ninguém precisa enfrentar seus vazios sozinho. Está tudo bem ser ajudado quando preciso. Às vezes, uma mão estendida é tudo o que se precisa. Muitas vezes, na verdade, é o que salva.

O Gran Finale *

Eis que a Marvel resolveu o mistério do asterisco no título Thunderbolts*. Eles são oficialmente declarados os Novos Vingadores pela Val.

Surpreendente? Talvez. O mais chocante pra mim na verdade foi saber a opinião do Sam Wilson (Anthony Mackie), na segunda cena pós créditos, sobre essa nova equipe — principalmente porque agora ela é liderada por Bucky, seu antigo parceiro e até então, pra mim, amigo (embora já tenham tido discussões e divergigem em algumas situações anteriores).

Outra revelação bomba também, que só veio à tona alguns dias depois da estreia é que essa cena foi dirigida pelos Irmãos Russo já no set de gravação de Vingadores: Doomsday o que deixou tudo ainda mais interessante porque a informação que se especula é de que na verdade é um teaser de mais de dois minutos para o próximo grande filme dos Vingadores.

Especulação porque é nessa mesma cena, que acontece uma ‘aparição’ que no meu entender, também deixa o beneficio da dúvida, por poder ser um trecho de um outro filme já com data para estrear: Quarteto Fantástico.

O que eu preciso assistir antes de Thunderbolts*?

Olha… estamos falando de Marvel. É sempre bom conhecer o contexto e ter consciência que se trata de um Universo de filmes compartilhados. Mas especificamente neste caso, Thunderbolts funciona até para quem não viu todas as obras anteriores. O filme dá pequenos flashbacks de cada personagem, o suficiente para não deixar ninguém perdido ao meu ver

Mas se quiser se aprofundar (o que eu sempre recomendo), aqui vão algumas produções que na minha opinião podem ajudam a entender um pouco mais dos personagens:

  • Capitão América: O Primeiro Vingador (Bucky)
  • Capitão América: O Soldado Invernal (Bucky e Valentina)
  • Viúva Negra (Yelena e Guardião Vermelho)
  • Homem-Formiga e a Vespa (Fantasma)
  • Falcão e o Soldado Invernal (Walker, Bucky e Valentina)
  • Hawkeye (Yelena)

Afinal, vale o Balde de Pipoca? 🍿

Se vale a opinião de quem estava com expectativas divididas… VALE! Thunderbolts não é um filme-evento, mas é um ótimo filme. Direto, emocional, com roteiro redondinho e personagens com profundidade. A Marvel apostou no “menos é mais” — e acertou.

O filme fala de amizade, saúde mental, traumas, e a capacidade de se arrepender, se reinventar, se reconstruir, se reerguer mesmo com tantos erros e escolhas duvidosas no passado. É Marvel, sim, mas uma Marvel surpreendente, emocional e humana.

Enfim, um filme sobre o olhar de cada um pra dentro de si, sobre amar o próximo no sentido mais singelo da palavra, sobre família, seja de sangue ou de coração sem deixar de falar de super-heróis como a gente gosta, claro!

Ah, sim, uma espera teve seu fim! Finalmente descobrimos quem comprou a Torre dos Vingadores. A Marvel podia demorar menos pra contar essas coisas, honestamente, mas, isso pode ser uma informação que valha umas boas pipocas, embora nem seja tão surpreendente assim.

É Marvel, mas, uma Marvel que surpreendeu e surpreendeu muito, mostrando que é necessário nada mirabolante, só precisa de alguém que saiba fazer uma boa direção, um bom roteiro, que conheça minimamente o assunto com o que está trabalhando, levando sempre os quadrinhos como um norte sim, mas, que não necessariamente faça uma cópia fiel, que apenas siba dosar o poder de criar e surpreender a todos, leitores e espectadores, sem desmerecer, achincalhar personagens que tem um legado, que tem história, respeitando a trajetória deles e a essência do mestre Stan Lee.

Aqui eu vi um filme sem firulas, sem pontas soltas, tudo se encaixa, com as temidas piadas excessivas e totalmente bem posicionadas e dosadas, sem exageros.

Finalmente, a Marvel que queremos pode ter chegado ou voltado, como queiram, agora a gente não quer que ela desapareça mais, porque ao menos dessa vez, finalmente eu pude sair do cinema aliviada, feliz e falar: Marvel, como eu gosto de você!

A gente se vê a próxima parada: Quarteto Fantástico!

Regiane Jodas

Regiane Jodas, paulistana, sagitariana, publicitária de gaveta, fotógrafa nas horas vagas, apaixonada por rock, dogs, shows, filmes e séries. Uma TDAH que está retomando o hábito da leitura

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