Um Homem Diferente: Aparência, Identidade e as feridas de ser você mesmo.

(Pode conter Spoilers)

Até onde uma condição física define quem você é? Até onde ela te limita? E será que um rosto perfeito cura feridas internas?

Um Homem Diferente mergulha fundo nessas perguntas ao contar a história de Edward, um ator em ascensão que vive com neurofibromatose — uma condição genética que afeta sua aparência. Reservado, tímido e constantemente julgado por olhares alheios, Edward enfrenta o peso de ser diferente em uma sociedade obcecada por padrões de beleza e por ridicularizar o que pode causar estranheza em um primeiro momento.

O filme traz à tona temas urgentes como saúde mental, vaidade masculina e a pressão estética sobre aqueles que vivem da própria imagem — algo que raramente vemos retratado sob a perspectiva masculina, e com tanta sensibilidade.

A vida de Edward começa a mudar quando Ingrid, uma aspirante a roteirista, se muda para o apartamento ao lado. Aos poucos, os dois se aproximam, e ele desenvolve sentimentos por ela — mesmo ela estando em um relacionamento. É aí que Edward decide se submeter a um tratamento alternativo, que promete curar seus tumores faciais.

O tratamento funciona. Edward ganha um novo rosto: bonito, sim, mas agora completamente desconhecido. E, com ele, uma nova identidade. Fingindo que Edward morreu, ele se reinventa como Guy — e é como Guy que ele se envolve romanticamente com Ingrid, sem revelar sua verdadeira identidade.

O curioso (e doloroso) é que Ingrid, sem saber, escreve uma peça baseada na história de Edward, e adivinha quem assume o papel principal? O próprio Guy. Ele interpreta a si mesmo, como se fosse outro.

E aqui o filme dá uma virada emocional importante. Ele conhece Oswald, outro homem com neurofibromatose — mas com uma diferença gritante: Oswald é leve, divertido, bem resolvido. Aceita sua aparência e vive uma vida social ativa.

As atuações

Sebastian Stan é o destaque desse filme, a maquiagem impressionante feita para que ele fosse convincente na condição da doença que ele representou nos primeiros momentos é perfeita e isso é confirmado quando Alan Pearson aparece, ator que tem neurofibromatose na vida real e que por sinal tem uma atuação igualmente sensacional!

Confesso que a ‘transformação’ me incomodou um pouco no início, mas, depois, eu entendi que pode ter sido feita propositalmente tão explicita, para causar o impacto forte que causa, lembrando uma cobra trocando de pele mesmo.

O roteiro é muito bem amarrado, onde a riqueza vai além dos diálogos explícitos, ela aparece num olhar, em uma dança, até mesmo em um silêncio. Tudo conversa perfeitamente com os sentimentos ali.

Vaidade masculina, aparência e empatia

Tudo muda, menos os sentimentos de Guy… Edward se livrou do que mais o incomodava — sua aparência — mas nunca conseguiu se livrar da dor que o consumia por dentro. Poucas vezes eu vi um filme tratar de forma tão sensível sobre vaidade masculina, sobre aceitação sobre ser quem você é sem se importar com o que os outros podem pensar.

Eu pensei muito sobre a abordagem que o procedimento alternativo do Edward tem no filme, uma questão que passa também pelo tema do filme A Substância talvez, mesmo que por um motivo diferente (ou nem tanto), já que o personagem de Um Homem Diferente é ator, lida com imagem em um lugar que esse assunto é tratado cruelmente para quem sai dos ‘padrões’ pré-determinados por eles, Hollywood.

Mas, mais importante do que todas essas abordagens, é sobre os cuidados que devemos ter quando estamos lidando, seja em que situação for, com pessoas com aparências peculiares, por distúrbios, doenças e coisas do tipo, cuidados com nossas reações e com o que podemos causar nessas pessoas, e que ficam sim, enraizadas em suas atitudes, seus comportamentos, sua forma de encarar suas vidas, mostrando como o mínimo de empatia no trato com elas pode mudar a forma de eles se verem dentro da sociedade.

Eu me lembro de ver uma entrevista do Sebastian Stan e do Alan Pearson juntos em que o entrevistador durante uma pergunta para Pearson, foi tão rude, tão mal formulada, sugestionando claramente como se Alan fosse um incapaz, um coitado, causando um mal estar horrível, porém, na mesma hora, Sebastian se posicionou, chamou atenção do sujeito com toda educação, porém firmemente, mostrando a importância do respeito com todos ali. Uma atitude linda com o colega, passando por situações similares ao filme, na vida real, ao vivo. A vida infelizmente não perdoa e mostra que a ficção, muitas vezes, tem razões claras para abordar certos temas, tão sérios aqui fora das telonas, mas, as vezes, infelizmente, quem assiste não absorve lição alguma para evoluir em alguns sentidos. Só um desabafo mesmo.

Vale o Balde de Pipoca? 🍿

O filme vale vários Baldes de Pipoca, principalmente pra os homens que assistirem, com a sensibilidade para perceber que o válido é talvez para olharem menos para o espelho e mais para dentro de si, para quem são, os homens que construíram por dentro e que determina mais do que o espelho mostra! 10 e 10!

Regiane Jodas

Regiane Jodas, paulistana, sagitariana, publicitária de gaveta, fotógrafa nas horas vagas, apaixonada por rock, dogs, shows, filmes e séries. Uma TDAH que está retomando o hábito da leitura

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